terça-feira, 21 de setembro de 2021

O Mito da Caverna



O Mito da Caverna


Acredito que você já conhece o Mito da Caverna de Platão. Não? Então, deixa eu te dizer. Platão registrou uma teoria de Sócrates que era um maluco, um doido de usar camisa de força - só pode mesmo para ter vindo com uma ideia como essa - resolveu criar uma história em que homens passam a vida presos dentro de uma caverna. Sem contato com o mundo de fora. Acorrentados. Apenas enxergam as sombras de objetos mostrados a eles por um grupo de pessoas ocultas. E essa é a realidade deles. Nunca viveram em outro lugar. Nunca experienciaram o mundo fora dessa caverna. É tudo o que eles vivem, é tudo o que eles sabem. Essa elite oculta, que os mantém presos apenas olhando para as sombras, inclusive cria um sistema de "elogios, honras e recompensas para quem melhor e mais prontamente distinguir a sombra dos objetos". Isso dá a eles um objetivo. Um porque se manter ali. Claro, por que agora eu tenho que competir para ver quem é o mais rápido em acertar o objeto. E se eu for, se eu bater a meta, eu ganho um prêmio. WOW!

Isso está parecendo história de filme, não é? Sim, e você deve ter assistido. Matrix utiliza o mito da caverna para compor o seu enredo. O filme cria um paralelo entre a nossa realidade e uma simulação. E Neo, o mocinho, magro, alto, bonitão, bem nos padrões de Hollywood, passa por um processo doloroso de se libertar dessas amarras da simulação para viver no mundo real. 

De acordo com o desvairado do Sócrates, ou com as irmãs Wachowski, a saída da caverna é dolorida. Ela tem que acabar com todas as nossas crenças. Afinal, o que essas pessoas viviam não era real, mas era tudo o que elas conheciam. Sócrates, em seu diálogo, pergunta se essas pessoas que estavam acostumadas a olhar apenas as sombras dos objetos, agora ao contemplar os objetos verdadeiros não ficariam em confusão e se persuadiram de que o que eles viam antes era real e verdadeiro e não os objetos agora contemplados? Se você assistiu ao filme, deve lembrar do Cypher. O cara do bife. Ele prefere voltar para a Matrix. Ele troca o mundo real pela ilusão. Por que a ilusão era mais confortável. O sistema de recompensa era o que ele queria. Não importava se as máquinas o mantivessem em cativeiro, num líquido gosmento, enquanto utilizavam a sua energia vital como combustível. Assim como Cypher, tendemos a buscar a zona de conforto. O que sempre soubemos. As verdades que nos foram ensinadas. Os sistemas colocados. Entendemos isso como real. E é verdade, o processo de saída da caverna é árduo. É um processo de desconstrução. E é solitário. Sócrates ainda questiona se depois de sair, essa pessoa voltasse e falasse para as pessoas presas sobre a realidade que passavam e o mundo lá fora as pessoas não acreditariam nela e ririam. E se talvez acreditassem, será que estariam dispostos a suportar as dores do caminho de saída da caverna e o incômodo que a luz do sol causa aos olhos acostumados com a escuridão?


Felipe Diesel


2 comentários:

  1. Muito obrigado, Felipe Diesel! Você tem um belo estilo! O humor, a ironia e a crítica dão um toque sofisticado ao seu texto.

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  2. Escrita sempre impecável! Parabéns Fe!! 👏🏻❤️

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