segunda-feira, 27 de setembro de 2021

Uma página em branco


"A felicidade de que gozei, quando nela reflito, induziu-me algumas vezes a dizer que, se me fosse dado escolher, nada teria a objetar à repetição da mesma vida, desde o seu início, almejando apenas a possibilidade de que dispõem os autores de qualquer obra de corrigir na segunda edição os erros que se lhes deparam na primeira." 

Benjamin Franklin 




Uma página em branco

 


Viver é sempre como escrever um diário a próprio punho. A letra se transforma enquanto deixamos de ser crianças, as palavras mudam enquanto aprendemos a ser adultos e as frases são ressignificadas enquanto descobrimos um pouco mais sobre nós mesmos. A mudança é a única certeza. Folhear esse antigo caderno, que nos acompanha desde antes de aprendermos a escrever, é enxergar a nossa história como um prólogo a para o que faremos hoje. Se, por ironia do destino, entre um folhear e outro de páginas, pudéssemos reescrever a própria história, e para isso tivéssemos que escolher entre recomeçar a partir desse caderno com rabiscos ou um novo com páginas em branco, não hesitaria em começar tudo novamente.

E não é por desprezo ou desgosto à vida, pois em nada a mudaria. É que a vida, até hoje, me fez duvidar que exista uma maneira certa de vivê-la, a qual não mais questionaríamos de onde viemos e para onde vamos. Nem mesmo, que exista um fim único e perfeito para ela, que após consecutivas mudanças e melhorias de rumo, estaríamos plenamente satisfeitos com o que fora escrito. Ou ainda, que exista uma forma ideal de cultivar a vida, de modo que satisfaça permanentemente a estética do momento. Por isso, apagar e reescrever o que já foi escrito, mudando tudo aquilo que nos incomoda, não construirá uma vida melhor, apenas uma nova vida, tal qual começar um caderno em branco.

 Aprender com a experiência é uma das grandes invenções que a cultura nos proporcionou, mas isso não significa que devemos insistir nos nossos velhos rabiscos. O caminho que elimina as dúvidas e as incertezas pode ser uma mera ilusão de um observador incapaz de ver além das próprias limitações. O questionamento, e toda incerteza que isso implica, é o motor que nos permite explorar o que há de novo para ser vivido.

Um caderno em branco dá a liberdade de escrevermos o que e como quisermos. Diferente dos rabiscos, uma página em branco sempre será sempre uma página em branco, independente de onde ela esteja. Por isso, preencher esse caderno é preencher a angústia da liberdade do branco pelas linhas tortas e imperfeitas de quem nós somos e seremos. E apenas quando entendemos o passado como um prólogo para o futuro é que descobrimos o verdadeiro significado de uma nova página em nossa vida.

Fagner Z.

 

terça-feira, 21 de setembro de 2021

O Mito da Caverna



O Mito da Caverna


Acredito que você já conhece o Mito da Caverna de Platão. Não? Então, deixa eu te dizer. Platão registrou uma teoria de Sócrates que era um maluco, um doido de usar camisa de força - só pode mesmo para ter vindo com uma ideia como essa - resolveu criar uma história em que homens passam a vida presos dentro de uma caverna. Sem contato com o mundo de fora. Acorrentados. Apenas enxergam as sombras de objetos mostrados a eles por um grupo de pessoas ocultas. E essa é a realidade deles. Nunca viveram em outro lugar. Nunca experienciaram o mundo fora dessa caverna. É tudo o que eles vivem, é tudo o que eles sabem. Essa elite oculta, que os mantém presos apenas olhando para as sombras, inclusive cria um sistema de "elogios, honras e recompensas para quem melhor e mais prontamente distinguir a sombra dos objetos". Isso dá a eles um objetivo. Um porque se manter ali. Claro, por que agora eu tenho que competir para ver quem é o mais rápido em acertar o objeto. E se eu for, se eu bater a meta, eu ganho um prêmio. WOW!

Isso está parecendo história de filme, não é? Sim, e você deve ter assistido. Matrix utiliza o mito da caverna para compor o seu enredo. O filme cria um paralelo entre a nossa realidade e uma simulação. E Neo, o mocinho, magro, alto, bonitão, bem nos padrões de Hollywood, passa por um processo doloroso de se libertar dessas amarras da simulação para viver no mundo real. 

De acordo com o desvairado do Sócrates, ou com as irmãs Wachowski, a saída da caverna é dolorida. Ela tem que acabar com todas as nossas crenças. Afinal, o que essas pessoas viviam não era real, mas era tudo o que elas conheciam. Sócrates, em seu diálogo, pergunta se essas pessoas que estavam acostumadas a olhar apenas as sombras dos objetos, agora ao contemplar os objetos verdadeiros não ficariam em confusão e se persuadiram de que o que eles viam antes era real e verdadeiro e não os objetos agora contemplados? Se você assistiu ao filme, deve lembrar do Cypher. O cara do bife. Ele prefere voltar para a Matrix. Ele troca o mundo real pela ilusão. Por que a ilusão era mais confortável. O sistema de recompensa era o que ele queria. Não importava se as máquinas o mantivessem em cativeiro, num líquido gosmento, enquanto utilizavam a sua energia vital como combustível. Assim como Cypher, tendemos a buscar a zona de conforto. O que sempre soubemos. As verdades que nos foram ensinadas. Os sistemas colocados. Entendemos isso como real. E é verdade, o processo de saída da caverna é árduo. É um processo de desconstrução. E é solitário. Sócrates ainda questiona se depois de sair, essa pessoa voltasse e falasse para as pessoas presas sobre a realidade que passavam e o mundo lá fora as pessoas não acreditariam nela e ririam. E se talvez acreditassem, será que estariam dispostos a suportar as dores do caminho de saída da caverna e o incômodo que a luz do sol causa aos olhos acostumados com a escuridão?


Felipe Diesel


quinta-feira, 16 de setembro de 2021

Como trabalha um escritor?

 Como trabalha um escritor?

Assim:

(Ideia) - Sou rico! Super bem realizado na vida! Tenho tudo que desejo, tudo que sonhei um dia! Amigos, pessoas que me amam, dinheiro, luxo, tudo!


O escritor: 

- Mas como conseguiu tudo isso? Roubou, matou? Foi fruto de um trabalho duro? Foi sorte? Casou com mulher rica? Ganhou na loteria? Descobriu o segredo da Rosa Mística? Achou o Santo Graal? Foi abduzido? Recuperou a saúde? Encontrou a rota para as Índias? Escapou da COVID? Caiu na real? Aprendeu a dar valor as coisas simples? Defende o meio ambiente? Nasceu de novo? ...

Os questionamentos são infinitos... 

O escritor se coloca tais questões para que ele próprio possa respondê-las. É autor e leitor ao mesmo tempo. Edifica a sua frente uma espiral ascendente de perguntas e respostas, e segue seu árduo trabalho de completar as lacunas da alma, do intelecto e da sociedade.

Ah, e se não conseguir responder em um só capítulo, escreve outros e outros... Volumes e volumes...




Você teve sorte de viver este romance


Sim, foi ótimo!!! Uma maravilhosa história de sexo, droga e Oasis... Enredo de um livro com certeza, se de sucesso? Já não sei, faltou violência, o público gosta dessas coisas. Porém, insustentável, do ponto de vista emocional... Eu nunca estive tão desprotegido e agressivo nos meus sentimentos. Ou eu atacava, ou eu atacava... virei um ser primitivo. Queria prazer e mais prazer. Tive tudo! Mas com a mesma intensidade com que me veio, se foi... Terra arrasada, melancolia, perda de sentido da vida... Busquei saída na filosofia, na escrita, nos pensamentos ordenados e no álcool, bebia todos os dias, dormia com o gosto da presença dela e acordava com a ressaca do nunca mais... Porque tudo tinha virado caos. Depois eu ainda lutava para sufocar aquilo que tanto me matou, eu queria sentir de novo, viver de novo a morte de perto. Cheirá-la, comê-la! A morte em vida deve ser submetida aos sentidos... A paixão é a prima gostosa do Amor, que só está de férias por alguns dias em sua casa.

Assinado: Casal Garcia

Tudo que você precisa saber sobre o Concurso Nacional Unificado

  O CONCURSO NACIONAL UNIFICADO (CNU)   O CNU é regido pela Portaria MGI Nº 6.017, de 4 de outubro de 2023, emitida pelo Ministério da Ges...